Você já ouviu falar em dieta cetogênica? O que vem à sua cabeça? Se a resposta for travessas de carnes, bacon e queijos, vamos voltar uns passos atrás e pontuar, de maneira correta, o que constitui a “keto diet” e quais os efeitos sobre o organismo humano. Confira agora em dieta cetogênica: do intestino ao cérebro. Constituição e mecanismo Diferente de uma dieta convencional, que contém aproximadamente 55% do valor energético total (VET) de carboidratos, 30% de lipídios e 15% de proteínas, a cetogênica possui apresenta 90% de lipídios, aproximadamente 7% de proteínas e 8% de carboidratos apenas, dependendo do protocolo. Essa restrição de carboidratos, após cerca de 72 horas, nos leva à produção de corpos cetônicos pelo fígado, sendo a tentativa do organismo em levar “energia” aos demais tecidos, em forma de corpos cetônicos como beta hidroxibutirato. O mesmo processo ocorre em situação de jejum, portanto, esta intervenção dietética também pode ser considerada “imitadora de jejum”. Por essa razão já surge a dúvido: portanto essa dieta é super eficiente para o emagrecimento, correto? Para que o corpo possa utilizar os corpos cetônicos como fonte de energia, o indivíduo deve estar “cetoadaptado”, o que significa que o transporte e utilização destes está acontecendo de maneira eficiente. Uma importante meta análise mostrou que, em comparação com uma restrição calórica convencional, a dieta cetogênica induziu de fato à uma maior perda de peso mas que esta não foi clinicamente significativa a longo prazo. E outro trabalho de um dos principais pesquisadores sobre metabolismo mostrou que pessoas submetidas à dieta cetogênica tiveram um ligeiro aumento no gasto energético mas que não auxiliou a perda de peso. Dieta cetogênica e o diabetes Muitas pessoas recomendam a keto diet como forma de tratamento do diabete mellitus tipo 2. Vejamos: a disfunção nas células beta pancreáticas secretoras de insulina e/ou a ineficiência dos receptores deste hormônio leva o indivíduo a desenvolver esta doença. O principal secretagogo de insulina são os carboidratos, portanto eliminá-lo da dieta por suposto que irá melhorar o controle glicêmico, no entanto, não existem quaisquer evidências de reversão do quadro ou melhora da sensibilidade à insulina. Do intestino ao cérebro No que se trata das doenças neurodegenerativas a dieta cetogênica vem apresentando bons resultados. A patogênese do Alzheimer está ligada com aumento do estresse oxidativo e consequente lesão de DNA e proteínas. O Parkinson já está mais associado com perda de neurônios dopaminérgicos, mas também em decorrência de um status antioxidante pobre. Os estudos que induziram a dieta cetogênica em idosos, por diferentes períodos de tempo, nos mostram uma importante melhora na cognição, memória e função motora dos participantes. Essas pesquisas possuem algumas limitações no que se diz respeito ao tempo de aderência da dieta devido aos seus efeitos colaterais, como náuseas, vômitos e falta de apetite, mas os resultados são promissores, tanto em modelos animais quanto em humanos. Com quadros corriqueiros de diarreias e outros incômodos, surge a necessidade de se compreender o que ocorre com a permeabilidade intestinal dos adeptos da dieta cetogênica. De fato existem estudos que demonstram uma piora da permeabilidade com o alto consumo lipídico, isto devido a redução da expressão de tight junctions, favorecendo a passagem de toxinas, LPS e ácidos biliares (Leia o artigo – A influência da dieta na microbiota intestinal). Essa passagem indesejada aumenta o estresse oxidativo do enterócito, induzindo a apoptose deste, e em conjunto esses fatores precedem as patologias intestinais. No entanto, uma recente revisão mostrou que esses efeitos podem ser contornados tomando algumas precauções durante a intervenção, tal como: ● Introduzir o uso de Whey e proteínas vegetais ● Reduzir a ingestão de proteína animal; ● Implementar alimentos fermentados (iogurte, água e kefir); ● Introduzir adequadamente prebióticos e probióticos específicos (se necessário); ● Reduza a proporção de ácidos graxos ômega 3 para ômega 6 (aumente o ômega 3 e diminua o ômega 6); ● Evitar adoçantes artificiais e alimentos processados, por mais que se encaixem como alimentos para dieta cetogênica; Para entender mais sobre o assunto: Dieta cetogênica e doenças neurodegenerativas https://scienceplay.com.br/blog/article/638 Dieta Cetogênica e Performance https://scienceplay.com.br/blog/article/672 Ketogenic Diet and Microbiota: Friends or Enemies? https://www.mdpi.com/2073-4425/10/7/534/pdf
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