Nosso intestino, hoje em dia também conhecido como “segundo cérebro”, é habitado por milhares de microrganismos, onde podemos encontrar até 1.000 tipos de espécies diferentes. Esse conjunto de microrganismos é chamado de microbiota intestinal, sua composição é individual e varia de acordo com o tipo de parto, genética, idade, dieta, uso de medicamentos e ambiente onde se vive. Mas o que há de especial na relação entre o intestino e o cérebro? Hoje vamos te ajudar a entender melhor este conceito de Eixo intestino-cérebro! Vamos lá!
Intestino e Microbiota
A nossa microbiota possui um equilíbrio entre os microrganismos benéficos e patogênicos, ela trabalha melhor quando se encontra em estado de homeostase, pois os organismos benéficos possuem funções importantes para o nosso organismo, e essas funções são inibidas quando os organismos patogênicos estão em maior quantidade. A mesma é responsável pelo desenvolvimento do sistema imune, pela defesa contra bactérias patogênicas e biossíntese de alguns micronutrientes (vitamina K e B12), além de produzir ácidos graxos de cadeia curta.
No que se refere a sua modulação, a dieta é o principal fator capaz de modular a microbiota intestinal, garantindo assim as funções fisiológicas e diminuindo o risco de doenças neurais, como: ansiedade, stress, autismo e depressão. Ademais, uma microbiota em desequilíbrio causa alterações nos níveis de cortisol, serotonina e citocinas (TNF-a, histamina e IL-6), alterando a função da barreira intestinal, aumentando permeabilidade e gerando inflamação na mucosa.
Além da ampla capacidade absortiva do intestino, que devido ao alto fluxo sanguíneo presente nas microvilosidades intestinais também apresenta funções endócrinas e neurológicas. Para explicar o contexto de hoje, vamos nos ater às suas funções neurológicas, que é justamente a comunicação do eixo intestino-cérebro.
Comunicação entre Cérebro e Intestino
Através das vias aferentes e eferentes do nervo vago, há a comunicação entre o cérebro e o intestino. Sentimentos como medo e ansiedade, além de uma má alimentação podem alterar a secreção e motilidade intestinal. A comunicação deste eixo é como se fosse uma via de mão dupla, onde o cérebro tem a capacidade de influenciar a microbiota, alterando sua flora pela ação de neurotransmissores. Assim como a microbiota intestinal é capaz de influenciar o comportamento, a partir da produção de metabólitos que atuam no sistema nervoso.
Para exemplificar esta relação, vamos utilizar a serotonina como exemplo. No intestino, além da produção fisiológica de serotonina, há também a captação do seu precursor: o triptofano, que pode ser usado pelo sistema nervoso para produção de mais serotonina. Esse neurotransmissor exerce funções orgânicas cerebrais, como: regulação do sono, humor, apetite e temperatura corporal. O mesmo acontece com outras substâncias, e sendo assim, existe uma relação de dependência entre o sistema nervoso e o intestino. Resumidamente, podemos dizer que se a função intestinal não é saudável, a função cerebral também não é saudável, o contrário também é verdadeiro.
Como a Nutrição Pode Ajudar?
Para entender de fato o Eixo intestino-cérebro, vamos começar com um exemplo prático:
Consumo de Fibras: As fibras ingeridas através da alimentação serão fermentadas pela microbiota intestinal, gerando alteração na gliconeogênese intestinal. Lembrando que a gliconeogênese é processo de obtenção de energia a partir da utilização de outros substratos que não a glicose. Este processo por si, aumenta a produção de glicose, que via circulação portal alcança os alvos cerebrais. Essa sinalização garante benefícios metabólicos como: redução da adiposidade, e melhor controle glicêmico e da sensibilidade à ação da insulina.
Além disso, indivíduos que sofrem com quadros de disbiose e síndrome do intestino irritável, quando expostos a uma alimentação baseada em alimentos in natura e minimamente processados, aumentam a oferta de nutrientes essenciais para que os microrganismos benéficos continuem a se reproduzir, alterando a permeabilidade intestinal. Também, essa informação é passada ao sistema nervoso, que irá receber a mensagem e reduzir sintomas desagradáveis como estufamento e gases. Ainda para modular a microbiota, o uso de probióticos podem ser também uma boa opção.
Por fim, considerando a incidência de casos de ansiedade e depressão, pacientes que sofrem dessas condições podem estar com problemas relacionados a microbiota intestinal. O nutricionista pode fazer esse rastreio através de uma boa avaliação, que envolve compreender o hábito alimentar, investigar se há desconfortos relacionados ao trato gastrointestinal, hábito intestinal e uso contínuo de medicamentos.
Considerações Finais
O controle desta condição pode ser efetuado através de estratégias que contam com a individualidade alimentar, buscando alinhar preferências alimentares com uma dieta que apresente vegetais rico em frutooligossacarídeos (frutas, cebola, alho poró e castanhas), iogurtes e leite fermentado (oferta de cepas bacterianas benéficas), fibras (aveia e cereais integrais) e otimizar o consumo de água. Ainda, diminuir temporariamente o consumo de carne vermelha e carboidratos refinados também pode ajudar.
Para um estudo mais aprofundado pelo tema, seguem abaixo algumas sugestões:
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