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Finalmente entenda sobre o uso de nitratos no esporte


Talvez um dos temas mais comentados por indivíduos que frequentam academias seja o uso de suplementos pré-treino que prometem a vasodilatação, como através da substância óxido nítrico. Porém, antes de comentar sobre o óxido nítrico, precisamos abordar sobre outras duas substâncias de extrema relevância para a compreensão deste tema, o nitrato e o nitrito. No texto de hoje, vamos elucidar de uma vez por todas o que a literatura científica traz a respeito do uso de nitratos na performance, bem como os fatores que podem influenciar nessa resposta.


A obtenção de nitrato pela dieta


O nitrato (NO3) é um tipo de ânion poliatômico que pode ser adquirido na forma inorgânica via dieta, através do consumo de beterraba, espinafre, aipo e rabanete, por exemplo. A via de obtenção de nitrato dietético começa já na cavidade bucal, onde parte do NO3 presente nos alimentos entra em contato com bactérias anaeróbias facultativas, sofrendo um processo de redução a nitrito (NO2). Aqui vale levantar um ponto interessante para o uso de enxaguantes bucais, que reduzem significativamente a microbiota bucal e consequentemente os níveis de nitrito, o que pode interferir na produção de óxido nítrico. Outro ponto interessante é que o ácido ascórbico (vitamina c) pode facilitar a conversão de nitrito em óxido nítrico.


O nitrito atinge suas concentrações máximas aproximadamente 2 horas e meia depois da ingestão, porém, para aumentar sua conversão em óxido nítrico (NO) é necessário uma sinalização de disponibilidade reduzida de oxigênio (situações de isquemia e hipóxia) e de pH, ambiente metabólico o qual o exercício pode provocar no músculo esquelético.


A produção endógena


Certamente outra substância bem conhecida e utilizada nas composições de pré-treinos com o objetivo de aumentar a vasodilatação é a arginina, um aminoácido que pode ser obtido endogenamente em condições normais, através do ciclo da ureia. A ideia por trás do uso de arginina é também favorecer a via de produção de óxido nítrico, reação dependente de uma classe de enzimas chamadas de óxido nítrico sintase (NOSs), que catalisa a reação entre este aminoácido e uma molécula de oxígeno, liberando o aminoácido citrulina e o radical livre óxido nítrico (leia o artigo - Os suplementos antioxidantes e o desempenho esportivo).


O óxido nítrico é um gás com meia vida de alguns segundos apenas, sendo que o seu principal mecanismo de ação é atuar aumentando as concentrações de guanosina monofosfato cíclico (GMPc), o que leva ao relaxamento do músculo liso e consequente vasodilatação de artérias e veias. Do ponto de vista clínico, o uso de nitratos na dieta oferece uma possível oportunidade terapêutica para a redução da pressão arterial, efeito observado em alguns ensaios clínicos. De maneira geral, o óxido nítrico é descrito como uma substância com efeitos a nível de vasodilatação, angiogênese, captação de glicose, respiração e biogênese mitocondrial.


Os efeitos no esporte


Quando se fala de nitratos e performance física, primeiramente se pensa em suco de beterraba, que é o alimento fonte mais utilizado em estudos sobre esse tema, dada a praticidade da ingestão (apesar de algumas doses serem mais elevadas). Dito isso, o óxido nítrico pode atuar no aumento da performance física através de mecanismos de melhoria na entrega de oxigênio ao músculo esquelético, ao passo que também altera o custo de oxigênio mitocondrial e ressíntese de ATP, o que leva a redução no custo de oxigênio durante o exercício.


A redução do custo de oxigênio pode ser vista como um fator de extrema relevância para a melhora da relação entre trabalho realizado e gasto de energia, conhecido pelo termo de delta de eficiência. Como foi dito anteriormente, o nitrito é convertido em óxido nítrico em ambientes com redução de oxigênio, logo durante o exercício a maior disponibilidade desse gás pode melhorar a resposta da desoxihemoglobina (HHB), que reflete o equilibrio entre a entrega e a utilização local de oxigênio.


Em exercícios intensos, uma recente revisão trouxe que o consumo do suco de beterraba resultou em melhora da função vascular, economia energética, redução da fadiga, melhor eficiência e desempenho muscular. De maneira geral, é observado resultados estatísticos relativamente baixos em atletas de elite, quando comparado ao placebo, o que pode ser explicado pelas adaptações que o exercício a longo prazo induz no atleta, ressaltando também que quando se fala de performance e alto desempenho, qualquer melhoria de 0,6% já é considerada relevante. Assim, indivíduos destreinados tendem a se beneficiar mais dos efeitos do suco de beterraba no exercício físico.


Qual seria a melhor forma de uso?


O nitrato é descrito como um suplemento nível A de evidência científica, em conjunto com creatina, cafeína, bicarbonato e beta-alanina. Sendo assim, com o intuito de extrair a melhor eficácia desta substância, é importante observar todo o contexto o qual será utilizado a suplementação, como por exemplo:

  • Status de treinamento

  • Tipo de exercício

  • Intensidade

  • Duração

  • Dose

Vale ressaltar que o consumo de nitratos deve ser em um período de 120 a 180 minutos antes do exercício, tempo necessário para aumentar as concentrações de nitrito plasmático. No que se refere às doses, geralmente variam entre 310 mg e 527 mg, e em alguns trabalhos é visto uma relação de dose-resposta.


Por fim, é observado que os efeitos da suplementação de nitratos a nível agudo pode influenciar rapidamente na oxigenação de órgãos e tecidos, porém é necessário o uso crônico para obter os benefícios sobre as alterações nas mitocôndrias e proteínas contráteis, responsáveis pela melhoria de desempenho físico.


Para um estudo mais aprofundado sobre o tema, seguem abaixo algumas sugestões:

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