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O que você precisa saber sobre tipos de tecido adiposo?


Quando se fala em tecido adiposo, geralmente, a primeira coisa que se vem na cabeça é o crescente impacto negativo que as condições de sobrepeso e obesidade tem causado na população mundial. Porém, o tecido adiposo é de extrema importância evolutiva, e suas células são as únicas especializadas para exercer a capacidade de armazenamento de gordura sem risco de comprometimento funcional do tecido. A nível de informação, podemos entender melhor a importância das células adiposas para a saúde ao observamos indivíduos com obesidade e lipodistrofia. As duas condições são extremos opostos no espectro de adiposidade, porém ambas geralmente convergem para o mesmo problema, o de acúmulo de gordura ectópica, levando a quadros de esteatose hepática, resistência à insulina e desenvolvimento de diabetes tipo 2.


No texto de hoje, vamos abordar o tecido adiposo de um outro ponto de vista, trazendo suas classificações e características fisiológicas. A princípio, podemos destacar que a principal e mais conhecida função das células do tecido adiposo, os adipócitos, é o de armazenamento de energia na forma de triacilgliceróis. Trazendo para um contexto evolucionista, no período da pré-história o homem nômade vislumbrava uma disponibilidade de alimento baixa (resultado de uma caça ineficiente), logo, a capacidade de armazenamento energético na forma de gordura era determinante para a sobrevivência a períodos prolongados de inanição e de manutenção da temperatura corporal, o que possibilitou o desenvolvimento da espécie.


Em sua composição, além de adipócitos e pré adipócitos, o tecido adiposo é povoado por macrófagos, células endoteliais, fibroblastos e leucócitos, o que o leva a um papel de destaque na regulação do metabolismo, como vou te mostrar abaixo.


O tecido adiposo branco


Do ponto de vista clínico, é de extrema relevância o entendimento das diferenças de segmentação do tecido adiposo, isso porque as variações na morfologia, número de mitocôndrias e expressão de genes termogênicos dos adipócitos podem definir significativamente o ambiente metabólico a qual o indivíduo está inserido.


O tecido adiposo branco (TAB) possui uma alta capacidade de armazenamento de energia na forma de triacilgliceróis, o que lhe confere a capacidade de proteção de órgãos (músculo e fígado) da lipotoxicidade, como já mencionando anteriormente. O TAB tem em suas células um número baixo de mitocôndrias e por consequência uma baixa capacidade oxidativa. Um detalhe a ser observado na histologia deste tipo de célula é a presença de uma única gotícula lipídica.


A distribuição dos depósitos de gordura em pontos específicos do corpo é algo a ser relatado em pesquisas como um fator tão determinante para o desenvolvimento de doenças quanto a massa gorda total. Dito isso, é bem descrito que o acúmulo de gordura visceral tem um apelo maior por complicações metabólicas, ao passo que o acúmulo na região mais periférica (subcutânea) possui uma correlação positiva com a atenuação destes danos.


Tecido adiposo marrom e a geração de calor


O tecido adiposo marrom (TAM) se destaca principalmente pela sua alta capacidade termogênica, característica determinada pela expressão da proteína desacopladora 1 (UCP-1) presente na membrana interna da mitocôndria. De forma simplificada, essa proteína funciona interrompendo o fluxo de prótons pela ATP sintase, fornecendo uma via alternativa para o retorno a matriz mitocondrial, dispersando a energia, que antes seria na forma de ATP, na forma de calor. Esse atributo confere ao TAM a capacidade de manutenção da temperatura corporal, porém sua distribuição pelo corpo é limitada.


Mais recentemente foi descrito a descoberta de um terceiro tipo de adipócito, o bege, disperso em depósitos de TAB e fruto de um processo de escurecimento (ou amarronzamento) do adipócito branco. O bege tem em sua composição um número maior de mitocôndrias e UCP-1, quando comparado ao TAB, e se localiza principalmente na região subcutânea.


Qual a importância das adipocinas?


Desde a descoberta da leptina em 1994, percebeu-se que o impacto do tecido adiposo no metabolismo ia muito além do armazenamento energético, e que era cabível a aplicação do termo órgão endócrino.


Nos dias atuais, cada vez mais as adipocinas têm sido alvos de estudos sobre suas funções no funcionamento fisiológico e fisiopatológico do organismo. Aqui, cabe ainda ressaltar algumas adipocinas secretadas:

  • Leptina: Funciona como um sensor energético, logo, maiores níveis de adiposidade levam ao aumento da secreção deste hormônio pelos adipócitos, impactando diretamente no comportamento alimentar (leia o artigo - Porque seu paciente sente tanta fome?), gasto energético e fertilidade.

  • Adiponectina: É um potente ativador da AMPK, que funciona como um sensor energético intracelular. Níveis altos de adiponectina favorecem processos de oxidação de ácidos graxos e aumento da translocação de GLUT4 para a membrana, aumentando a captação de glicose para a célula.

  • Resistina: Possui capacidade inflamatória alta por aumentar a secreção de substâncias como IL-6 e TNF-alfa. Além disso, se relaciona com o aumento da resistência à insulina.


Considerações finais


Como descrito acima, um tecido adiposo saudável, isto é em condições de crescimento e remodelamento fisiológico, possui características positivas para a saúde através da liberação de adiponectina e leptina, além da elevação do gasto calórico através da termogênese promovida pelos adipócitos bege e marrom. Por outro lado, indivíduos com sobrepeso e obesidade apresentam sérias repercussões metabólicas, mediadas principalmente pelo quadro de inflamação crônica subclínica, com a prevalência na secreção das citocinas IL-6 e TNF-alfa e mudanças fenotipicas de macrofagos presentes no tecido adiposo.


Por fim, a compreensão de todos esse fatores ajudam a individualizar ainda mais a conduta nutricional, seja o paciente um indivíduo com obesidade ou um atleta, com baixo percentual de gordura corporal.


Para um estudo mais aprofundado sobre o tema, seguem abaixo algumas sugestões:


Livro: Princípios de Bioquímica de Lehninger – Michael M. Cox e David L. Nelson

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