No texto de hoje no Blog BF Eventos, vamos começar explicando qual o conceito de periodização no esporte. Esse conceito de periodização surgiu com o planejamento de treinamento, sendo este um processo sistemático do programa de treinamento de curto, médio e longo prazo, variando as cargas e incorporando descanso e recuperação adequados. Tal prática foi assim ganhando mais relevância no meio esportivo, até que na última década, em apoio à essa periodização do treinamento, veio o conceito de periodização nutricional.
Periodização Nutricional
A periodização nutricional, por sua vez, são mudanças nutricionais em resposta aos períodos de treinamento, visando a melhora do desempenho dos atletas. Baseia-se no equilíbrio entre o gasto e a ingestão de energia, devendo sempre avaliar os determinantes fisiológicos, neuromusculares, sociais e psicológicos que influenciam o treinamento.
Após esses fatores estarem bem definidos, deve-se quantificar da melhor forma possível, as lacunas de desempenho de cada atleta. A partir disso, o profissional de educação física desenvolve estrategicamente os macrociclos (meses a anos), mesociclos (semanas a meses) e microciclos (dia a dia). Estes são aspectos da periodização do treinamento e das sessões específicas, usando-as como ponte até os objetivos. Portanto, as necessidades de calorias e nutrientes são diferentes durantes estes momentos, sendo então, necessário traçar uma periodização nutricional individualizada.
Desse modo, os métodos empregados para tal estratégia podem abranger a manipulação da disponibilidade dos nutrientes antes, durante e após o treino, e também, incluir práticas que preparem mais especificamente outros órgãos, como o intestino, para as competições. Assim, a periodização nutricional não é restrita somente as adaptações musculares.
Mas como estabelecer os ciclos da periodização nutricional? Primeiro, devemos fazer algumas perguntas referentes ao nosso atleta:
Quais são os períodos preparatórios entre as competições que são determinantes para o sucesso?
Em que momentos podemos intervir sem atrapalhar e gerar a adaptação esperada?
Quais são as intervenções de periodização de dieta, treino e recuperação para estes intervalos dos atletas?
Quais são as intervenções nutricionais propositais de aumento e restrição que podem dar suporte a periodização nutricional e estímulo de recuperação?
A partir dessas respostas, observa-se que há situações onde a intervenção nutricional pode necessitar incremento de algum macronutriente e momentos com ênfase na restrição dos mesmos, para gerar os resultados e adaptações esperadas. Porque para cada fase (macro, meso e micro), devemos ter considerações de desempenho e o contexto nutricional.
MACROCICLO (meses a anos)
CONSIDERAÇÕES DE DESEMPENHO
Qual é a carga e volume específico desta fase/bloco de treinamento para esse macrociclo (estímulo)?
Quais são as características nutricionais necessárias para o sucesso macro do atleta?
Quando as estratégias devem ser inseridas no macrociclo? Ex: Saber o momento da manipulação de peso (e se é necessária) e de eventos estratégicos.
CONTEXTO NUTRICIONAL
Estimativa dos substratos endógenos/exógenos necessários durante este bloco e avaliação de qualquer auxiliares ergogênicos nutricionais que combinam sinergicamente com a macro periodização.
Adequar o valor energético total (VET) ideal. Se necessário, avaliar o status do Deficiência de Energia Relativa no Esporte (REDs).
Discussões estratégicas da equipe em torno de risco e recompensa para otimizar o corpo, metas de composição corporal e desenvolver um perfil individual.
Direcionar possíveis intervenções nutricionais para a saúde individual dos atletas.
MESO (semanas a meses)
CONSIDERAÇÕES DE DESEMPENHO
Qual é a carga e volume específico desta fase/bloco de treinamento para esse mesociclo (estímulo)?
Quais são as características de cada mesociclo?
Se for um bloco de competição (muitas competições ao longo de vários dias para semanas), quais são os requisitos de recuperação crônica e aguda?
Como a nutrição pode dar suporte? Ex: VET ideal; distribuição de proteína (PTN) e carboidratos (CHO), lipídios (LIP) e micronutrientes; suplementos para cada fase.
CONTEXTO NUTRICIONAL
Estimativa de substratos endógenos/exógenos necessários devido aos estímulos específicos de treinamento durante esse bloco, e consideração de quaisquer auxiliares ergogênicos nutricionais que coincidem sinergicamente com a meso periodização.
Garantir o VET ideal. Se necessário, avaliar o status do RED-S
Durante as fases de competição pesada, é necessário um amplo planejamento logístico e prático para intervenções gerais.
Ambientes (calor, frio e altitude) determinam a implementação de várias intervenções nutricionais periódicas (por exemplo, hidratação, ferro, etc.).
MICRO (dia a dia)
CONSIDERAÇÕES DO DESEMPENHO
Qual é a carga e volume específico desta fase/bloco de treinamento para esse microciclo (estímulo)?
Como a nutrição pode ser utilizada durante a semana ou entre os diferentes dias e intensidade de treino para dar suporte para cada sessão? Ex: CHO para cada dia; e PTN conforme estratégia.
Qual é o horário típico do dia de treino? (dentro deste bloco específico/fase)
Quais são os requisitos de recuperação aguda de uma única/específica sessão de treinamento ou em uma única competição?
CONTEXTO NUTRICIONAL
Avaliação dos substratos endógenos/exógenos necessários, devido à estímulos específicos de treinamento durante esse bloco e consideração de quaisquer auxiliares ergogênicos nutricionais que sinergicamente coincidem com a micro periodização.
Garantir o VET ideal, considerando que pode haver variabilidade diária de gasto energético total (GET).
Estimativa de substratos exógenos/endógenos necessários durante a sessões individuais de treinamento, juntamente com as metas e a fase do treinamento
A fase de competição tende a oferecer desafios únicos de periodização nutricional, como de recuperação e mudança da composição corporal de acordo com o objetivo da modalidade esportiva. Com isso, podem ser utilizados protocolos de recuperação, e disposto como auxílio, os suplementos ergogênicos para a competição aguda (por exemplo: cafeína, bicarbonato de sódio, etc).
Acima de tudo, não se esqueça de sempre considerar a Individualidade do seu paciente. Pois é necessário avaliar qual o nível do seu atleta e como ele está adaptado. Ademais, é preciso saber se há disponibilidade e aceitação da estratégia proposta, se o mesmo possui sintomas/sinais de overreaching/overtraining e carências nutricionais.
Em conclusão, a implementação de intervenções estratégicas de nutrição temporal (macro, meso e micro) pode apoiar e melhorar a prescrição e adaptação do treinamento, bem como o desempenho específico de eventos agudos. No entanto, um quadro geral sobre como, por que e quando a periodização nutricional pode ser implementada ainda não foi bem estabelecido.
Referências e Indicações
E-book Arnold Conference Experience – Especial Louise Burke Artigo: A Framework for Periodized Nutrition for Athletics – International Journal of Sport Nutrition and Exercise Metabolism Artigo: Periodized Nutrition for Athletes – Sports Med
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