A Pesquisa Nacional em Saúde (PSN) divulgou dados coletados pelo IBGE do consumo de álcool e outros parâmetros de saúde da população adulta brasileira (coletados em 2019). Em comparação com a PNS realizada em 2013, houve um aumento do consumo semanal de bebidas alcoólicas em 2019 (de 23,9% para 26%). Ou seja, os brasileiros estão consumindo mais bebidas alcoólicas (IBGE, 2020). No entanto, vale destacar que esse alto consumo de álcool também é muito presente na população de atletas, sendo observado, principalmente em esportes coletivos, onde o consumo de álcool é muitas vezes incentivado como um componente de ligação da equipe e pode estar relacionado ao alívio do estresse.
Por mais contraditório que possa parecer, o consumo de bebidas alcoólicas por atletas é muito comum e o uso indevido de álcool pode interferir nos objetivos atléticos de diversas formas. A ingestão aguda pode afetar o desempenho ou a recuperação de exercícios; e de forma crônica, o consumo excessivo de álcool pode impactar na saúde e na composição corporal, que pode ser um fator primordial dependendo da modalidade que esse atleta pratique.
Posicionamento do Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM)
O posicionamento do ACSM concluiu que o uso agudo de álcool pode prejudicar força, potência, resistência muscular, velocidade e resistência cardiovascular (ACSM, 2016). Em geral, o consumo agudo de álcool, em níveis frequentemente consumidos por atletas, podem alterar negativamente a função imuno endócrina normal, fluxo sanguíneo e síntese proteica para a recuperação da lesão do músculo esquelético. Outros fatores relacionados à recuperação, como reidratação, sono adequado e ressíntese de glicogênio, também podem ser afetados.
Álcool x Sistema Nervoso Central (SNC)
O álcool tem impacto também no SNC, reduzindo a excitabilidade e atividade cerebral. Com isso, funcionalmente, o álcool pode impactar negativamente no tempo de reação, busca visual, reconhecimento, memória e precisão das habilidades motoras finas, sendo um grande obstáculo principalmente em esportes que demandam agilidade e rápido tempo de reação, por exemplo.
Será que o consumo de bebidas alcóolicas compromete a performance em modalidades praticadas em ambientes mais quentes?
O álcool demonstrou atuar como um vasodilatador periférico. Essa vasodilatação, acaba aumentando a perda de fluido por meio da evaporação, o que agrava ainda mais o estado de desidratação do atleta que potencialmente, já está presente por conta do efeito do álcool na diurese. Diante disso, já tem sido demonstrado que a desidratação prejudica o desempenho e, portanto, a reidratação adequada e a restauração de eletrólitos após o exercício, são muito importantes para garantir a recuperação antes da próxima sessão de treinamento ou evento esportivo.
Existe ainda uma interferência da bebida alcoólica nos mecanismos termorregulatórios centrais, resultando em uma redução da temperatura corporal central. Dessa forma, o consumo de álcool têm demonstrado repetidamente diminuir a tolerância ao trabalho em temperaturas ambientes altas e baixas.
E o sono?
Com relação ao sono, o álcool afeta a quantidade e qualidade do sono, devido ao efeito endócrino sobre o hormônio melatonina (reduz melatonina) e, porque pode interferir indiretamente, como resultado de ficar acordado por mais tempo enquanto há o consumo de álcool à noite.
Diante de tudo isso, o consumo de álcool não pode e nem deve ser encorajado, sendo importante informar sobre os efeitos deletérios do consumo excessivo de álcool sob a performance, para que os atletas entendam e sigam as orientações de beber moderadamente, apenas em eventos especiais. Ademais, é válido fornecer ao indivíduo estratégias de hidratação e sono, que levem à otimização do seu desempenho nas próximas sessões de treino.
Autores: Thalita Pereira e Felipe Ribeiro
Para um estudo mais aprofundado sobre o tema, seguem abaixo algumas sugestões:
Sugestão de estudo do Portal Science Play: Posicionamento do AIS: suplementos e alta performance
Referências:
- IBGE - Agência de Notícias, “Impulsionado Pelas Mulheres, Consumo de Álcool Cresce Entre Brasileiros Em 2019” (Ibge.gov.br2019)
- THOMAS, Travis et al. Nutrition and Athletic Performance. Medicine & Science In Sports & Exercise, [S.L.], v. 48, n. 3, p. 543-568, mar. 2016. Ovid Technologies (Wolters Kluwer Health). http://dx.doi.org/10.1249/mss.0000000000000852
- BURKE, Louise M.; COLLIER, Greg R.; BROAD, Elizabeth M.; DAVIS, Peter G.; MARTIN, David T.; SANIGORSKI, Andrew J.; HARGREAVES, Mark. Effect of alcohol intake on muscle glycogen storage after prolonged exercise. Journal Of Applied Physiology, [S.L.], v. 95, n. 3, p. 983-990, set. 2003. American Physiological Society. http://dx.doi.org/10.1152/japplphysiol.00115.2003
PARR et al. Alcohol Ingestion Impairs Maximal Post-Exercise Rates of Myofibrillar Protein Synthesis Following a Single Bout of Concurrent Training. Plos One, [S.L.], v. 9, n. 2, p. 88384-88397, 12 fev. 2014. Public Library of Science (PLoS). http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0088384.
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